16 de fevereiro de 2009

Entrevista com Paulo Henriques Britto -



Paulo Henriques Britto, é tradutor, ensaista e poeta. Já traduziu cerca de 80 livros, além de artigos e papers. É professor Universitário, da PUC – Rio, nas áreas de tradução, criação literária e literatura Brasileira. Além de ter recebido em 2002 o título da PUC – Rio de Notório Saber, como escritor foi contemplado com diversos prêmios, dentre eles:
* Prêmio Portugal Telecom de Literatura Brasileira, pela obra Macau, concedido pela Portugal Telecom, 9 de novembro de 2004.
* Prêmio Alceu Amoroso Lima - Poesia 2004, pela obra Macau, concedido pelo Centro Alceu Amoroso Lima Para a Liberdade e a Universidade Candido Mendes, 9 de dezembro de 2004.
* Prêmio Alphonsus de Guimaraens na categoria Poesia, pela obra Trovar claro, concedido pela Fundação Biblioteca Nacional, 22 de dezembro de 1997.
* Prêmio Paulo Rónai na categoria Tradução de Autores Estrangeiros para o Português da obra A mecânica das águas, de E. L. Doctorow, concedido pela Fundação Biblioteca Nacional, 20 de dezembro de 1995.

Trovar Claro. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
Traído pelas palavras.
O mundo não tem conserto.
Meu coração se agonia.
Minha alma se escalavra.
Meu corpo não liga não.

A idéia resiste ao verso,
o verso recusa a rima,
a rima afronta a razão
e a razão desatina.
Desejo manda lembranças.

O poema não deu certo.
A vida não deu em nada.
Não há deus.
Não há esperança.
Amanhã deve dar praia.

- Confiram a entrevista, com esse grande nome da literatura brasileira:

( Novitas) Como tu situas o período literário atual? Que papel faz a poesia nesse período literário?

( Paulo Henriques Britto)É muito difícil categorizar o período histórico em que se vive; ele só se torna histórico depois, visto em retrospecto. Mas algumas coisas parecem claras desde já. A mais óbvia, que já foi apontada por muitos, é o fato de que terminou o longo período — iniciado na França com o impressionismo nas artes plásticas, talvez, e encerrado no Brasil com a Tropicália, cerca de cem anos depois — em que artistas, escritores, compositores se organizavam em movimentos, redigiam manifestos, atacavam-se mutuamente, promoviam expurgos e excomunhões, assumiam posições definidas em relação a causas políticas e ideológicas. Hoje em dia cada artista é um bloco do eu sozinho; não há revistas de poesia que possam ser consideradas órgãos de movimentos e escolas. Naturalmente, continua a haver tendências diferentes em poesia, e pode-se fazer associações entre determinadas revistas e determinadas tendências — por exemplo, entre Inimigo Rumor e uma identificação estética com o alto modernismo, entre Coyote e posturas associadas à contracultura dos anos 60 e 70. Mas mesmo essas tendências são difíceis de definir, já que não há mais bandeiras estéticas (como o verso livre) ou ideológicas (como o socialismo) que constituam pontos de agregação para jovens poetas. Por outro lado, é claro que, como já observei, com o passar do tempo essas tendências vão se tornar mais nítidas para os críticos que virão depois.

(Novitas) Tu achas que poesia não vende, ou tu achas que as editoras não publicam poesia por que se acostumaram a produzir leituras de "fácil" entendimento para pessoas?

(Paulo Henriques Britto) Poesia de fato vende pouco. Com relação a esse ponto, costumo dizer que o motivo pelo qual o grande público se afastou da poesia na passagem do século XIX para o XX se foi o surgimento de uma nova arte, que conquistou esse público: a canção popular. Se os leitores oitocentistas liam Castro Alves e Álvares de Azevedo, os novecentistas encontravam lirismo em Noel Rosa, Chico Buarque e Caetano Veloso. A alta qualidade do trabalho dos nossos cancionistas fez com até mesmo os consumidores mais sofisticados se satisfizessem com as canções e não sentissem necessidade de ler poesia. Claro que alguns poetas ainda têm um público numeroso — Augusto dos Anjos, Drummond e Pessoa, e este fenômeno contemporâneo de público e crítica que é Manoel de Barros — mas de modo geral a poesia passou a ser consumida por poucos a partir do modernismo. E essa tendência só faz se acentuar. Quando eu era adolescente, nos anos 60, ainda havia uma poesia de fácil apelo que vendia bastante, como a de J. G. de Araújo Jorge. Nem isso mais existe. Ou seja: a questão não é a poesia ser difícil, e sim ela não ser canção.

( Novitas) Versos livres, ou a pura métrica?

(Paulo Henriques Britto) Todas as formas podem resultar em grande poesia (e também em péssima poesia, aliás). O verso livre é apenas mais uma forma que veio se acrescentar ao repertório da poesia ocidental — a meu ver, uma das mais difíceis de todas as formas.

(Novitas) Utilizas a inspiração para escrever poesia?

( Paulo Henriques Britto) Continua valendo a frase de Picasso: dez por cento de inspiração, noventa por cento de transpiração. Mas é claro que os dez por cento são importantíssimos.

( Novitas) Qual é o significado da poesia na tua vida? Começastes a escrever em que idade?

(Paulo Henriques Britto) Comecei a escrever poesia na adolescência, como todo mundo, mas meu principal interesse sempre foi a música e, na literatura, a prosa de ficção. Por absoluta falta de talento musical e dificuldade em escrever ficção, acabei na poesia.

(Novitas) Qual a tua opinião sobre a internet e a poesia?

(Paulo Henriques Britto)Não leio blogues por falta de tempo. Mas me parece que se antigamente o lugar de estreia para um jovem poeta era a revista de poesia, agora passou a ser a internet — o blogue e a revista online.

(Novitas) Quais teus autores prediletos da literatura Brasileira e Estrangeira?

(Paulo Henriques Britto) Leio muito, o tempo todo, e é difícil dizer quem são meus prediletos. Em poesia, nenhum poeta foi e é tão importante para mim quanto Pessoa, mas alguns outros chegaram perto: Drummond, Bandeira, Cabral, Emily Dickinson, Whitman, Wallace Stevens, Shakespeare. Em prosa, minha maior paixão é Kafka, mas também sou releitor compulsivo de Machado de Assis, Julio Cortázar e Witold Gombrowicz.

(Novitas) És um escritor premiado, qual prêmio teve mais significado e por qual motivo?

(Paulo Henriques Britto) O mais importante foi sem dúvida o Portugal Telecom, tanto em termos financeiros (e o dinheiro chegou na hora certa) como também pela projeção que ele me deu.

(Novitas) Estás trabalhando atualmente em algum novo livro?

(Paulo Henriques Britto) Estou sempre escrevendo e reescrevendo poemas, mas tão cedo não vou ter um número suficiente para publicar um novo livro.

(Novitas) No Brasil, dá para viver da escrita?

( Paulo Henriques Britto) Poucas pessoas vivem de escrita no Brasil, e menos ainda de escrita literária propriamente dita.

( Novitas) O que tu gostarias de falar para os novos autores?

( Paulo Henriques Britto) Leiam muito, leiam sempre, leiam sem parar. E pensem duas, três, dez vezes antes de publicar.
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- Essa entrevista será publicada no jornal Novitas, e distribuída de forma gratuíta.

2 comentários:

Bárbara Stracke disse...

achei muito legal a entrevista, o ponto de vista sobre os blogs tbm.

Bjz

Bárbara Stracke disse...

achei muito legal a entrevista, o ponto de vista sobre os blogs tbm.

Bjz