Lua de Lobos
* Lú Cavichioli
Desde que me ausentei dos desajustes humanos, habito a caverna dos sussurros. Entre o cheiro de urina que demarca a entrada deste beco até o fim da linha, sinto-me especialmente abrigada entre amigos. Aqui me escondo da solidão sarcástica da humanidade em declínio, já que abdiquei de tudo, até das jóias que tanto amava. Mas para quê uma loba necessita de jóias se possui topázio no olhar.
No fundo azul da caverna encolhida, eu gargalhava entre os uivos de tesão das lobas enlouquecidas num cio de rubi, entre pêlos suados de machos ensandecidos numa entrega total e subjugada.
Às vezes eu tinha alucinações nas sombras e numa noite vi entrar na caverna um vulto prateado que acariciava os lobos. No entanto, não se aproximava de minha figura patética, estampada na moldura adotiva da alcatéia. Talvez porque sentisse o cheiro acre de poros humanos. Poros que matam, esfacelam, retalhando vidas. Por certo descera da lua em carruagem serenita, buscando o prazer da visão noturna em pêlos, macio de instintos, cordeiros imantados de bocas e línguas ferozes, num adocicado tremor animal.
Minha pele adquirira o tom avermelhado de terra batida. Minha postura definia a loba inconseqüente que morava no ego estúpido, outrora humano, desapegado da natureza.
Unhas em garras cresciam nas patas em dedos femininos. No breu da solidão eu emergia branca, fêmea de pelagem macia. Submersa em desejos no recôndito de minhas entranhas.
Em certa madrugada insone, ouvi tiros. Rifles desgovernados em mãos assassinas, escória!
Sem pestanejar, com mãos multiplicadas em patas, corri.
Nos olhos da loba mulher, a lua em holofotes iluminava a trilha. De repente o disparo, atingindo meu coração . Caí sem vida.
Uivos prateados caíam em gotas preenchendo crateras na alcatéia em pânico que rodeava meu corpo.
Os olhos de topázio, certamente enfeitariam um pescoço em algum salão taxidermista onde a cobiça ignore a natureza!
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*Lu Cavichioli, escritora/poeta
paulistana e esteticista, com
conhecimentos em psicologia
começou a escrever na adolescência,
ocasião em que teve seu primeiro
poema publicado em um jornal da
época, na coluna de um professor.
Aluna do curso de secretariado
foi coordenadora
do jornal da escola a convite do
corpo docente. Participou de duas
antologias: Forja da Liberdade
– com o conto “Almas Gêmeas”, e,
de a Árvore da Vida, com “O Conto
do Relógio”, da editora Arnaldo
Giraldo.
A autora cativou amigos virtuais
com seu estilo contemporâneo,
despojado e original.
Ela escreve em vários gêneros
com destaque para a ficção, onde
seu gosto pela literatura fantástica
se traduz na busca pela alma da
natureza humana.
Lu Cavichioli nos brinda com seu
primeiro livro, Re(cantos) de Mim, em um convite aberto
à sua poesia entre arabescos de fina
garoa & múltiplos sentidos.
Madalena Barranco
Escritora
Blogs que Lú Cavichioli participa:
http://retratosemdegrade.blogspot.com/
http://escritosnamemoria.blogspot.com/
http://emporiodocafe.blogspot.com/
http://vemproquiosque.blogspot.com/
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12 comentários:
Obrigada Tita e David pelo convite e oportunidade.
Um beijo enorme!
Lu Cavichioli
Parabéns pela linda crônica.Lu e por estar aqui nesse espaço tão lindo!beijos e tudo de bom,chica
Lu,mais uma vez,Parabéns!
Crônica maravilhosa!Li,reli,adorei!
Bjs
Walnélia
EScritora , psicóloga, esteticista, amiga de tantos anos.Capacidades que visam sempre a beleza do ser humano. Sensível, feminina, forte como rocha, loba de pelagem branca e macia.
São tantas as qualidades de Lú Cavichioli.Uma pessoa eterna em minha alma e na literatura brasileira.
Chica,
obrigada pela visita em minha crônica e também pelo incentivo.
Beijo grande pra ti amada.
Wal, muito obrigada!
beijos querida.
Rose, vc me deixou sem palavras...
obrigada por tudo minha querida. Como eu disse anteriormente:
nossa amizade fala por nós.
megabeijo linda!
Lu...
Bravo! Eis uma prosa poética de altissima qualidade!
Apenas, por agora, quero deixar uma breve nota:
- Agradecer a oportunidade que me deste de entrar neste templo das palavras, onde encontro muito talento e criatividade!
Um abraço!
AL
-
Um texto fascinante, selvagem, suave, como a noite de uma loba.
Luiz Ramos
Queridos A.S. fico feliz que esteja entre nós.
abraços e obrigada por seu incentivo.
Lu C.
Querido Luiz, obrigada pela leitura. É um texto , que,particularmente, gosto muito.
ABRAÇOS
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