*Eduardo Manciolli
Eu, o estudo e o tempo de tudo
A fome e o verso no estudo
O tempo que assombra esse muro
Me veste, me rasga e impele as grades do mudo
Me rendo as raízes do fruto,
Raízes do tempo que assolam meu mundo
Tempo, que com pompa, joga no escuro
Me assemelha, o vento, em dunas, e em tudo
Eu o tempo, do acento, no intento do obscuro
Que o invento não me cai e se quer posso-te em lume
Eu, o tempo do Invento
Eu, o soneto imperfeito
Eu, a obra incompreensível
Eu, a morte do saber, em verdades absolutas
O cego fascinado pelo ópio que lhe rega
Brinquedo, do atento sedento
Wanessa
*Eduardo Manciolli
As vezes o tempo avança e retrocede, as vezes o tempo para e se torna insuportavelmente infeliz, as vezes o tempo sucumbe e a vida se torna instável e inconstante, as vezes tudo que queremos é apertar o pause rebobinar a fita e apagar completamente todas as lembranças , cheiros e fotos, antes mesmo de tentar entender o que aconteceu, ou porque aconteceu, simplesmente voltar ao ponto onde tudo começou, mas desta vez antes de te olhar e me apaixonar perdidamente eu diria não a mim mesmo, não ao conforto de amar alguém especial, não por não te desejar mais ou qualquer tipo de magoa, e sim para não viver mais longe de você, eu apagaria toda e qualquer substancia retrátil de você.
* Eduardo Manciolli, é autor da Editora Novitas e tem no prelo o livro "Petrus".Nascido no interior de Mato Grosso, Barra do Garças, ludibriado com a grandeza das serras e parques temáticos, onde minha única alegria quando criança era jogar bola descalço no asfalto de pedras ponte agudas, na porta de casa, ficava tentando imaginar o que seria quando crescer e sempre me frustrava porque sempre alguém era o bombeiro, o policial, o ator, cowboy, o medico, mocinho ou bandido, eu era no maximo o “libero” como num time de vôlei, a única coisa que eu conseguia imaginar era “fazer algo”, todo mundo tinha um sonho, todo mundo sempre tinha a resposta na ponta da língua e eu sempre engasgava, tentando la no fundo me identificar com algo e nada me vinha, afinal que bosta de sonho de criança era esse “fazer algo”, tinha sonhos grandes e completamente robustos, sem fundo nem causa, sempre a espera de uma mensagem, esperando um “Mensageiro” bater a minha porta um dia e dizer, “Eduardo Manciolli eu vim aqui para te trazer a luz do esclarecimento”. Os anos se passavam a porta envelhecia, as roupas já não me serviam, os endereços mudavam constantemente, neste momento a saudade de meu pai “morto por si mesmo” so aumentava, eu me agarrava a paredes gelatinosas esperando encontrar um amigo, um homem mais velho para me espelhar, o tempo passava e minhas expectativas desmoronavam mais rápido do que um castelo de cartas. Passei de escola em escola completamente perdido e ausente, com momentos de extrema euforia e outros que “nem sei”. Aos 11 anos de idade senti minha infância escapando pelos dedos, dia 22 de maio de 1995 começava inicio da minha vida capitalista meu primeiro trabalho, minha busca continuava de emprego em emprego das áreas mais variadas tentando me encontrar, percebi com vivencia e maturidade que todos começam a pensar no próximo em algum momento da vida, não era mais so o “fazer algo”, comecei a refletir e o “fazer algo” se tornou “fazer algo pelo próximo”, o tempo passou, as bocas continuavam abertas como passarinhos no ninho a espera da mãe que lhe trás a comida regurgitada, a insatisfação e a cobrança pelo mundo, começava a tomar conta de mim novamente, ajudava sempre, mas a boca nunca cansava de pedir, comecei a imaginar tais pessoas como robôs semi programados para comer e exercer tarefas “mono-sintomáticas”, o ser humano tem que ter algo alem de comida, o ser humano precisava de sustentação, de embasamento mais profundo de si mesmo algo muito alem de comida, decidi devorar a Filosofia, afinal os filósofos poderiam me dar uma resposta, devorei todos os grandes filósofos e pensadores do passado, Platão, Nietzsche, Voltaire, Kant, Jung, Freud, Marx, meus horizontes se expandiram assustadoramente, minha percepção de vida já não era mais a mesma, quando achei que era por demais inteligente, com 19 anos de idade me tornei um velho de 70 anos caxias e de pensamento complexo, devastado por ideologias de inúmeros pensadores, não tinha nenhum rastro de pensamento próprio, uma pessoa sem descobrir a sua própria verdade é como um saco vazio que flutua no vento, sem peso nem causa apenas segue o vento, então Nietzsche único filosofo que não penteava seus cabelos do saco, me deu a luz, eu tinha que matar tudo, ate a mim mesmo, para realmente existir, queimei todo amor próprio, acabei com todos os paradigmas aos quais me recostava desde o berço. Continuei ajudando, o córtex frontal estava completo, mas ainda faltava algo, a alma dessas pessoas continuava esquálida e morta, descobri que a frase mais clichê de todos os tempos tinha algum fundo de verdade “nem só de pão vive o homem”. Então para encontrar respostas enveredei por caminhos que eu nem imaginava, mas eu nunca mais seria o mesmo, estudei todas as ciências, estudei todas as religiões e seitas existentes no mundo, pilhas e pilhas de papeis impressos para todos os lados da minha casa mais de 30.000 paginas estudadas e testadas minuciosamente, Física Quântica, Cabala, Gnose, Espiritismo, Magia Branca, Magia Negra, Candomblé, Cristianismo, Satanismo, Budismo, UDV, eu precisava de uma resposta eu precisava da cura, eu precisava de um remédio, eu precisava de uma “verdade”, penetrei tão fundo, busquei tão longe, vi as cores vivas do universo tão próximo que me achei mágico, no fim nenhuma seita, ciência, religião, tinha uma “verdade”, eram apenas uma junção de coisas e copias delas mesmas, em cada escritura era apenas o grito da alma aprisionada numa “lata” bem decorada, todas as religiões buscavam tão longe uma coisa e nunca perceberam que o grito que eles ouvem é o de sua própria alma querendo despertar, mas todos nós aprendemos desde cedo a imaginar que a cura estava fora, bem longe num céu de diamantes e Deusas gostosas e seminuas.Voltei ao meu ninho, e as pessoas continuavam ali com as bocas abertas esperando meu material regurgitado, cai de joelhos em meio a eles exausto, sem comida, sem filosofia para guiá-los, sem a verdade que poderia desperta-las, e com problemas mentais dos mais diversos causados pelas experiências míticas que passei e que poucos seres humanos na terra podem imaginar que existam. Procurei “dentro”, procurei “fora”, procurei em todos os lugares uma só verdade, e estava ali no meu ninho exausto e a dor mais forte que me perturbava, era que “não existiam verdades”, o que eu faria agora? Qual esperança eu lhes daria, precisava ao menos de um analgésico ou palavra de esperança pra eles porque eu não via nada alem de minha própria escalada.Eles começaram a se aproximar de mim, me abraçaram forte, e eu desmontei a chorar, a fome havia passado há muitos anos, o “fazer algo” e “fazer algo pelo próximo”, virou “Transformar”, “Transcender” e “Evoluir” percebi isso quando me olharam profundamente nos olhos, pude ver la no fundo a minha dor translucida em suas próprias almas, eles me estenderam as mãos e me deram abrigo. “Dormi” por muitos e muitos meses ate me recompor, a busca havia acabado e assim toda minha força e estabilidade também. Acordei aos 26 anos de idade afundado em depressão, escombros e dores que adquiri, me arrastei ate o banheiro, me escorei na pia, olhei no espelho e ali estava alguém que eu ainda não tinha visto, alguém que eu esperava desde criança bater a minha porta, tantas casas, tantas ruas, tantas moradas, esperei tanto tempo por este dia e achei que nunca iria encontrá-lo, e ai ali estava ele na minha frente tão próximo, era ele o “Mensageiro”, então descobri era EU o mensageiro que eu esperei a vida toda encontrar, era eu o mensageiro da transformação, era eu o Escritor. Enfim eu havia me encontrado
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