13 de novembro de 2009

Quintas - Feiras - By Tatiana Cavalcanti

QUINTAS-FEIRAS

*Tatiana Cavalcanti

Ela sai apressada toda quinta-feira. E toda quinta-feira ela está mais arrumada, mais sexy, com o sorriso mais largo e com o cabelo mais solto. E sempre de prata para destacar com a cor da pele dela que é morena. Quase sempre ela coloca saia às quintas-feiras e blusas com o decote um pouco mais ousado. Nada de vulgar, apenas pretencioso como seu jeito de toda quinta-feira. Ele sai ansioso toda quinta-feira. E toda quinta-feira ele está mais radiante, menos focado no trabalho, com a roupa mais casual que o mundo dos negócios permite e sempre de Calvin Klein. O perfume não a cueca.

Ela sai para ficar toda quinta-feira duas horas fora. Sagrada como sua fé em Santa Rita e benta como a água do Padre da paróquia que tem na rua da casa dela. Ele sai toda quinta-feira para ficar duas horas fora. É como o suspiro do fim, necessário. Ela sai mais vibrante. Ele mais despojado. Ela vai o caminho todo cantando bem alto que é para entrar no clima. O clima mesmo que pega fogo e acende tudo em todo mundo, até nos frios e calculistas. Ele vai ouvindo jazz porque jazz para ele tem uma sensualidade importante. Ela chega lá toda vez super disposta e feliz. Ele chega lá toda vez com saudade e cheio de coisas para contar e cheio de boca para beijar. E toda quinta-feira, quando eles chegam lá, é uma loucura saudável. Eles se beijam, se abraçam, se perdem naquele momento sagrado de quinta-feira e dizem coisas lindas um ao outro. E prometem tudo que essa vida oferece de melhor um ao outro. Ele sempre fala do amor que sente por ela. E ela sempre retribui com um sorriso doce e responde contando da saudade e do amor intermináveis que igualmente, sente por ele. Eles se prometem mais tempo do que só as quintas-feiras. E também falam de largar tudo e morar na Praia do Forte. E fazem planos de amor eterno e tesão irrevogável e carinhos sinceros. Toda quinta-feira inclusive, o diálogo se assemelha. Os mesmos temas. Uma ou outra frase diferente. E toda quinta-feira, tirando uma do mês, a atendente do motel é a mesma, a Catarina.

E toda quinta-feira ela vai embora para casa, ouvindo Marisa Monte que é para ficar na fossa e chegar perto de provocar o suicídio de saudade. E ele vai ouvindo o mesmo jazz porque jazz é sempre mais sexy e ele nunca quer esquecer como ela o faz esquecer. E toda quinta-feira ele abre o vidro do carro e respira com a cabeça para fora tomando um vento nos cabelos lisos e pretos que é para lembrar como a liberdade completa. E toda quinta-feira ela se liberta e ele se reinventa.

E toda quinta-feira ela, quando entra em casa, quase chora de saudade. E ele tem vontade de voltar correndo para ela. Ela só não chora para o marido não desconfiar. Ele só não volta porque só às quintas-feiras é muito mais duradouro.

* escritora e redatora.
http://coffeeandhistory.blogspot.com
tatianarcavalcanti@gmail.com
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