31 de agosto de 2010

Resenha de "Contos que ninguém conta", por Andrea Lucia Barros

Um livro de contos, para ser bom, deve contar com uma boa narrativa, bons personagens e boas histórias. Caso essa mistura não aconteça ele, com certeza, estará fadado ao esquecimento. Pois são justamente esses três elementos que são encontrados no livro Contos que ninguém conta de David Nóbrega. Em seu livro, o autor consegue fazer com o que leitor tenha muitas sensações no decorrer da leitura. Raiva, angústia, nojo, dor, sofrimento, amor, alegria e felicidade. Todos esses sentimentos estão ali, nas palavras de David.


Em Tardias reflexões, o leitor encontrará uma história cuja narrativa é um soco no estômago. A transformação (e degradação) pela qual passa a personagem é muito bem construída e os elementos que compõem o conjunto são perfeitos. Com uma outra tônica, Nóbrega toma a loucura como ponto de partida para Amizades. Aqui, o texto revela o contraste de classes sociais e como a mente humana pode ser pega de surpresa por seus pensamentos.


O poder de escrever leva ao receptor a mensagem codificada, isto é, o autor coloca no texto uma carga que, a sua maneira, poderá remeter a determinado sentimento. Contudo, quando a mensagem é revelada por outrem se transforma em algo totalmente diverso. É o caso do conto Lobo em que o narrador, em primeira pessoa, relata ações rotineiras de sua vida. Porém, para quem lê a história pode passar algo repugnante. Com isso, David atinge em cheio seu objetivo. Revelar sensações é uma das maiores metas de um autor.


Na mesma prateleira de Tardias reflexões pode-se colocar Doutor. Sublime! A ambição e arrogância estão juntas nesse conto. É claro que tudo vai depender do ponto de vista do leitor, mas esse deve ser considerado o melhor conto do livro. A história é encorpada e muito bem amarrada. Trata-se de um texto em que o ápice, na verdade, não está no meio dele, mas, sim, no todo. Desde o início o leitor é cativado pela simplicidade do texto e da narrativa. Mas é melhor não falar muito porque ele realmente merece a leitura.


Já Deus e o Diabo revela lados interessantes do ser humano e do mundo atual. Um diálogo aberto e franco entre os dois personagens que dão título ao conto se desenrola em um bar. Um pobre ser comum é pego para testemunhar o bate-papo. É bastante divertido. Para um autor, uma das coisas mais importantes é conseguir amarrar um texto. Isso significa conseguir conduzir a história sem que haja um erro qualquer. É exatamente isso que David faz em Subumano. A história, que parece despretensiosa, se revela mais complexa do que se imagina. O final é um dos mais interessantes do livro.


O livro além de abordar temas variados é interessante pela narrativa ardida de Nóbrega. Ele não poupa palavras para descrever cada lugar e personagem. Em sua obra os elementos que compõem a narrativa são tão bem articulados que é fácil ler um conto atrás do outro sem perceber que, aos poucos, o livro vai terminando. Uma bela leitura para um leitor que deve estar cansado de procurar algo diferente nas estantes das livrarias.

Visite o site do autor: www.davidnobrega.com.br


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