30 de setembro de 2010

On the rocks - By Tatiana Cavalcanti

On the rocks


*Tatiana Cavalcanti


Para todo o esgoto do mundo a doçura da minha intuição que berra no meu megafone interno que isso é a verdade embora eu tenha certa ojeriza a grandes verdades.
Eu tento desesperadamente reeditar esses flashs que vêm e vão num mar bravo que me dá um caldo atrás do outro, tira meu fôlego e faz minha consciência pulsar nos movimentos aflitos dos meus pés. Eu só quero respirar mesmo. E se dormir não for luxo, duas noites resolvem.
Mas eu, amor, eu sou foda, eu me mantenho firme, eu não caio de cama por causa de qualquer garoa não. E para toda a força do mundo a minha necessidade que lateja na ponta dos dedos. E nem vem que meu corpo é fechado, sabe como é isso?

É tão comum ser imbecil, eu não sou PHD em coisa nenhuma a não ser em vomitar e todas as técnicas para poder fazer isso com alguma classe. É tão normal acreditarem no que eu quero que acreditem quando eu decido não me expor. Eu tenho medo, mas sou honesta, faço sem dó, me vingo do mundo sendo do contra e gritando na orelha dele tudo que ele quer que eu engula num ato quase sexual e não consensual. E para ser honesta nem sei se sou tão honesta assim. E para ser efetivamente honesta, não eu não sou tão honesta assim não. Alguém é de verdade o tempo todo?

E de tentar, perguntar, não saber responder, repensar mais tudo que eu acho somado com todo o resto que não sou eu. E depois de tomar outro litro inteiro de coca-cola e depois reclamar da flacidez. Eu descubro no gole de água fresquinha que tudo isso é uma imensa e filha da puta mentira. E que já faz tanto tempo que já não posso mais lembrar a última verdade depois daquele sushi com aquele pileque imenso, enquanto tentava me desculpar por ser tão idiota. E depois para me desculpar da ressaca e do mundo e das culpas e do passado.
E de tudo que eu não falo de verdade para não sair por aí arrancando estômagos de pessoas inocentes no meio da rua com as minhas verdades afiadas.

Para toda a minha aflição em passar por tudo e por todos tentando ser ao menos um pouco impune, o respirar pausado e tranqüilo junto com o coração que bate sempre mais devagar. Mas não é de quase morrer, é de viver numa paz tão absurda que eu tenho momentos leves de um otimismo rosinha e verde, cheios de amor e esperança nisso de ser melhor. Eu não quero ser melhor, mas alguma coisa em mim quer e essa alguma coisa é mais forte que eu.

Para toda doçura do mundo a acidez do meu fígado estragado que expurga na bile todos os impulsos sexuais e emocionais que eu sou e tenho e coleciono. Com amor e com carinho, todos engavetados no meu peito que só quase explode todo dia porque não há mais espaço para guardar nada. E aí a falta de ar de sempre, que desencadeia a sensação do pânico de não caber mais dentro de mim. Aí um banho quente, um chá quente, um colo quente e as friezas se derretem nisso que não tem remédio: ter que viver. E de preferência com umas pedrinhas de gelo, por favor para uma hora ter que esquentar tudo de novo.


* Autora do livro: Caóticos de uma mulher crônica que será lançado pela Editora Novitas.

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