22 de outubro de 2010

A mulher que tinha TOC




Coisas fora do lugar me tiram do sério, me dão pânico. Eu tento organizar por fora o que dentro sempre foi e é bastante bagunçado. Certeza que é TOC, mas não vou ouvir isso de médico nenhum. Um TOC estabanado, com rabo de labrador. É tanto defeito para superar que não dá para admitir o caos do meu físico que se manifesta através de pequenos, repetidos e chatos transtornos. Seca a garganta, dói o tubo digestivo e para sair é pior que parto. E tem dias que é sério, nem o Activia resolve.

Eu arrumo a cama antes de me espreguiçar e tenho sete tatuagens porque tem que ser número ímpar para não dar azar. Apago a luz três vezes e lavo o cabelo outras três vezes. E preciso ser subversiva cinco vezes ao dia porque quatro é par, que tem a ver com direita. Uma das minhas teorias mais furadas diz que pares são direitos e ímpares são esquerdos. Nenhum embasamento técnico nem porcentagens, nada, só loucura mesmo. Ímpares, esquerdos, certos e errados. Os conflitos, quero dizer, os conceitos da vida.
Um dia, no auge do meu TOC emocional, ele disse que tem que lidar o tempo inteiro com isso que eu sou. E eu sei disso e de muitas outras coisas. E a verdade mais crua do que nua é que eu só sou isso porque consigo ser mais forte que eu mesma. TOC de ser existe? Hurum, o TOC emocional. Tomara, senão vai ter gente querendo me internar. A minha loucura me mantém sã, por mais louco que isso pareça.

Lá se vão crises e crises de ansiedade, noites e noites de maus jeitos na insônia, banhos e
banhos quentes pra parar de latejar o pescoço enquanto a estática das coisas torce meu único
pâncreas. Pâncreas é um só, né? Existe alguma coisa que torce o pâncreas de mais alguém? Lá se vão textos e textos para o lixo, uma hora eu tenho que conseguir. Repete, Tatiana, repete sem parar o mantra “é possível, é possível, é possível, é possível”. Quatro vezes não, é par, é direito, é possível, pronto. Acende um incenso para o mantra ter mais força. Melhor não, tenho um vizinho que confunde incenso com maconha.
Eu sou toda errada, eu só consigo arrumar o que não está dentro de mim. Horas do dia arrumando a sala arrumada, o quarto em ordem, uma gaveta onde nem tem tanta blusinha para ajeitar. O TOC físico que me dá a sensação de estar tudo em seu devido lugar. Páginas e mais páginas, arquivos e mais arquivos que acabam no buraco sem volta da lixeira limpa.
Eu já sei. É feio, constrange. É muito muito feio mesmo? Constrange mais a verdade ou a mentira? Como que grande parte das pessoas gosta? No TOC emocional as perguntas se repetem e eu abro os armários da cozinha, ali tá sempre bagunçado. Mas gosta em silêncio, né? Ou mente que gosta? Por mais que eu saiba onde estão minhas estrias, sempre olho para ter certeza pela última vez. Todo dia pela última vez. Uns dias chego a olhar pela última vez três vezes. Tudo pro lixo. Esvazia a estria, quer dizer, a lixeira e confere se perdeu tudo mesmo. Toc, toc, toc, abre essa porta!

O mundo parece confuso para mim e eu tenho até medo de saber o que pareço para ele. Eu até choro um pouco por causa disso, mas depois acaba passando. Não precisa ter medo não, é só TOC. Físico e emocional. Não pega não, só diverte quem assiste.











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