2 de dezembro de 2009

Eu e meus pretextos

Eu e meus pretextos.

By Tatiana Cavalcanti


Todos esses zilhões de pretextos só para eu não ter que contar para todo mundo o quanto eu infarto dez vezes ao dia quando penso na gente. E a nossa sorte é que meu coração é forte como seu ombro que me carrega sempre que eu bebo demais para esquecer que essa merda toda me incomoda porque eu sou uma besta quase humana. Mas incorrigível e burra quase aos extremos dos pés. Todos os pretextos do Universo para não ter que olhar fundo no seu olho e me ver num reflexo quase sem brilho e meio desgostoso com esse saco que anda a vida tão distante e morna. Todos os pretextos escritos num livro que ando lendo até doer a vista para não sair correndo daqui e admitir que eu sou uma mulherzinha dessas que eu odeio e de quem eu morro falando mal por achá-las todas idiotizadas por suas bundas e por uma juventude física que é ilusão tão grande quanto sua massa flácida. Eu e todas as desculpas esfarrapadas juntas na mesma missão. A de esconder de todos os seres pensantes que isso é vício e que vício mata e eu estou quase morrendo de não poder mais me enxergar sem essa muleta confortável que você é com essa almofadinha gostosa de repousar o sovaco que hoje já está vencido. Eu e todos os pretextos unidos para que eu possa viver do que sempre vivi. Um monte de ilusões de mãos dadas para atravessar a Santo Amaro fora da faixa de pedestre. Um monte de mentiras pequenas e grandes para fingir que sou bem resolvida, que sempre transei com qualquer um e nunca sofri por isso. Mas respiro aliviada quando recobro um segundo de cabeça e percebo que pelo menos eu sou sã. Estou aqui dizendo tudo o que eu quero esgoto abaixo para ter a sensação de que saiu desse corpo e que ainda com o papel higiênico em mãos, eu posso tudo porque agora estou livre desse monte de bosta.


Eu recolhendo por aí, com amigas solitárias e outras nem tanto, mais e mais razões para não poder admitir nem sob tortura que você me move a trancos e solavancos mas que eu adoro. Eu catando nos lixos da cidade qualquer desculpa para não me arrepender nunca de ser tão idiota mesmo estando arrependida há séculos.


Eu e todos os pretextos do mundo resolvemos te dizer que é tudo somente um monte de desculpinha tosca. E que no fundo no fundo, eu não vivo sem você sob pretexto algum.

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