7 de dezembro de 2009

O homem que odiava - By Carlos Emerson Júnior


O homem que odiava
*Carlos Emerson Júnior

Tinha ódio da humanidade. Judeu, preto, japonês, viado, sapatão, nordestino, boliviano, índio, pobre, padre e até bichos de estimação. Remoía isso todos os dias, quieto no seu canto, olhando aqueles rostos repulsivos que a todo momento se aproximavam para pedir alguma coisa.

Nessas horas fechava mais ainda a cara e se fazia de surdo. Dava certo, chegava até a assustar os incautos.

Para piorar seu humor, detestava seu trabalho. Detestava seu patrão, detestava a rotina diária de tantos anos, não suportava sequer olhar para o rosto dos colegas. Precisava do dinheiro, fazer o quê... Nem se preocupava mais com o bando de jovens incompetentes que enchiam a repartição. Só queria mesmo era receber o seu no fim do mês e o resto que se dane!

Simples assim.

Não tolerava crianças. Abominava qualquer coisa parecida com festas, carnaval, bailes, futebol, Natal, Ano Novo, feriados, sábados e domingo em particular. Aniversários ? Nem fale, não sabia mais sequer quando era o seu!

Mulheres só pagas e com ordem expressa de não abrir a boca para falar um ai! Com o tempo e a idade, foram se tornando desnecessárias. Jamais se casara e sabia muito bem que tinha sido uma atitude correta.

Não entendia e muito menos apreciava música, livros, poesias, obras de arte, qualquer coisa que fosse considerada uma criação estética ou intelectual do homem. Isso tudo era pura enrolação para tirar dinheiro dos estúpidos.

Da mesma forma desprezava religiões de uma maneira profunda, acreditando que eram mais uma forma de influenciar rebanhos de humanos carentes em busca de um paraíso impossível.
Para o resto do mundo, não poderia haver nenhuma salvação. A raça humana era um estorvo, um carma mesmo, gente ignorante que só prestava para reproduzir e trabalhar. Saco!

Um dia ele morreu e ninguém notou. O mundo continuou a rodar e a vida seguiu. O homem que odiava a humanidade não fez falta nenhuma.


* Não tem jeito... basta ter Júnior no nome e vai ser Júnior até o fim. Não adianta nem tentar se apresentar pelo primeiro nome ou usar a abreviação Jr., como eu faço:
- Carlos Emerson, muito prazer!
- Ah! Mas você não é o Júnior ?
É isso mesmo. Eu sou Júnior desde criancinha. Na escola já começava a barafunda: para os professores valia o Carlos e os amigos que iam lá em casa usavam o Júnior.
Comecei a trabalhar e oficialmente virei Emerson, apesar de uma boa parte do pessoal usar o Carlos, vá lá entender o porquê. Uma confusão tão grande, que certa vez um diretor chegou a me pedir para deixar um recado para o Emerson!!! Ou teria sido para o Carlos ?? A única unanimidade era na hora de alguma reclamação, o que, aliás, até hoje é assim:
- Carlos Emerson!! Venha cá, imediatamente!!!
Meu primeiro blog se chamava Blog do Júnior. Só que ficou de uma indigência sonora tão grande que, “brilhantemente” rebatizei como Blog do Cejunior! Pronto! Tinha acabado de inventar mais uma variação de meu nome e desta vez para a vastidão sem fim da Web. Seja como for, ou melhor, com qualquer um desses nomes, é com enorme prazer que participo de mais uma Coletânea organizada pelos queridos amigos Letícia e David.
Todas as crônicas escolhidas partiram de fatos realmente ocorridos comigo ou com amigos, confirmando a velha teoria de que a vida real é bem mais fértil do que a imaginação.
Sou carioca, moro em Nova Friburgo, na serra fluminense, escrevo e edito o blog Focus Mode (
www.focusmode.net) e o Blog do Cejunior (cejunior.blogspot.com).

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