30 de julho de 2010

Eloquência - By Van Luchiari

ELOQUÊNCIA


By Van Luchiari


Fica aqui, dentro desse amor que não morre, não morre, não morre.
- Oi. Como estás?

(Aos pedaços. É uma confusão, sabe? Eu quero dizer-te que gostaria de ter, apenas por um instante, esses teus olhos que me vêem assim tão diferente do que eu sei que sou por dentro. Ou não sei. Ou não tenho. Porque eu sou só esse meu abismo buscando asas. Apenas essa fresta escancarada na pele... ferida aberta que não sara. Essa coisa em metamorfose. E essa vontade de enfiar-me numa cápsula e perder-me desse tempo que não me entende e me corrói. Me corrói, entende?

Queria dizer-te dessa imensidão mascarada que eu trago escondida sob esse véu melancólico. Dizer-te que sou profunda, mas de uma profundeza intragável, asfixiante.

Sou submersa. E não sei se um dia chegarei à superfície de mim. E assim me faço porque o silêncio me habita e sem ele eu não existo.

Acostumei-me a ser essa solidão disfarçada de alegria. Vulnerabilidade vestida de fortaleza.

Também preciso contar-te como é tão melhor o meu dia quando acordo longe de mim. Ou quando bebo café fresco ou saboreio morangos ou descubro uma música. E como me sinto viva quando deixo-me molhar pela chuva ou quando atravesso os minutos sem que nada me machuque, nem eu mesma. E como eu gosto quando não há espinhos nas coisas, nas pessoas, na vida. E dos pequenos prazeres que eu tenho nessas coisinhas diárias que cabem todas tão imensas nas minhas mãos. Entende?

Eu queria que tu soubesses dessa blindagem que eu carrego em mim. Dessa capa que me protege e envolve corpo, alma, palavras, tudo. Essa casca impenetrável com jeito invencível, mas que por dentro chora e se desmancha.

É... eu queria mesmo dizer-te que essa que você vê daí da altura dos teus olhos, é, no fundo, uma finitude. Uma substância etérea prestes a diluir-se e ser esquecida, porque nada mais é do que um mero desvio de si mesma.
Mas no fundo eu também queria pedir-te, voraz, com todo o meu silêncio: não te desvies de mim.)

- Estou bem, obrigada.




* Uma "Arteira". Cuspidora de Música e Artes.
Compositora de instrumentos, vozes, palco, luzes, canto, melancolias, pincéis, cores, design, asas, cavernas, tintas, fotografia, sinfonias, melodias, rimas, prosa, versos, telas, imaginação, abismos, tempestades, morangos, raios, artes, decoração, mão-na-massa, blogs, poesias, escritos, sonhos, quereres...
Observadora de Estrelas, de olhos, de almas, de percepção, de profundidades, de Picassos, Matisses, Mirós...
Fazedora de artes, encantamentos, balangandãs, amores, beijos, sorrisos, drinks, mordidas, provocações, manias, ilusões...
Equilibrista de distâncias, palavras, letras nas máquinas de escrever, aprendizados, sentimentos, paixões, êxtases, orgasmos, borboletas, cristais, ventanias, cordas, pés descalços, nudez, erotismos, teias e baratos afins...
E depois de tudo, um fim.
Escreve no blog http://vanluchi.blogspot.com/





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