14 de julho de 2010

Lixo e Fuga - By Bruno Bossolan

Lixo e Fuga


*Bruno Bossolan

Eu me enganei
Pensando
Confiando em qualquer um
Jogando palavras a quem me foi dado
De presente
Sendo da mesma matéria
Enriquecido de carbono e potássio
Mas pelo jeito
Foi empobrecido
De lixo e fuga

Um punhado de gente fraca
Gestos compressores
Atitudes especulativas
Saneamento intestinal
Para o enriquecimento
Genuíno da amizade

E você sofre tudo isso em silêncio
Porque seu mártir causa tanta repugnância
E te condenam por ser nojento

Acordo
Desperto
Estou acomodado no chão
E daí pra frente segue a rotina
Com essa bola que vai rolando
Na mesma rua
No mesmo sentido
Sem sentido

As pessoas são diferentes
E então inconformadas
A expressão do cansaço
É a mesma em todas as faces

Eu não queria ter infectado
Com essa minha indiferença
Dos padrões sentimentais
Não queria ter mostrado
Que posso sentir
Apenas com os olhos

Então eu fiquei escondido
Cego no buraco
Meus outros sentidos se aguçaram
Impurezas no meu corpo
Ainda virgem

Noites em estado
Morto
Estado num trópico
Morto
Instável na mesa de cirurgia
Morto
Estado da vida
Numa morte comemorativa
Ponderável fantasia
Morto

A vulgaridade flui
Do meu sorriso
Emana da sua mente
Emana de nós dois
E de cada um
Pro seu próximo
Que está ao lado
Na frente
Esperando pelo toque
E não ser tocado
Pode causar
Repulsa

Eu fujo pra longe
De mim
De tudo o que há
Existindo no bafo
Dos visionários
Profetas
Eruditos
Beberrões
Soltando na cria enfurecida
Gotas de complacência

Não é poesia
É um túnel claro
Como você enxerga a sua existência
Definhando na neblina
Piscando
Limpando os olhos
Mas sem parar
Olhando pra baixo
Só quando o penhasco
Estiver amontoado
Sobre seu corpo

Percorre a alma
Numa velocidade
Irremediável
Inexorável
Saltita nas veias
Dança
Harmoniosamente
Pulsa nos instintos
Como uma vitrola
Arranhando
A pele machucada
Espetacularmente moldada
No banalismo
Deságua no mundo
No lixo urbano
Fedorento e lucrativo
Pra uma fuga
Voraz e perpétua
Assim com os ossos
Doentes e as pernas
E as mãos e a cara
No cotovelo um roxo
Manchas de agressão
Da esperança
E te cala

Calando a voz
Os sentimentos
A razão
Consciência da derrota
E vai embora


*Bruno Bossolan nasceu em Capivari (SP), no dia 25 de junho de 1988. Começou a escrever com 13 anos, sempre buscando compartilhar a sua vida no papel. Depois da morte de seus pais, sua poesia se tornou ousada, nada de padrões ou fantasias, é uma simplicidade descrita em versos ou solta na percepção. Filosofia de boteco, blues e agressões morais são os companheiros inseparáveis do poeta.

Blog: www.tormentos.wordpress.com
Twitter: @BrunoBossolan




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