18 de agosto de 2010

A pergunta de cabeceira - By Tatiana Cavalcanti

A pergunta de cabeceira.

*Tatiana Cavalcanti


A pergunta de cabeceira:
Porque? Porque que a vida é tão incerta e cheia de razão?
Porque mesmo quando a gente quer que a maré nade pra norte ela insisti em usar sua força absoluta e nadar para o sul?

Às vezes eu acho que se eu soubesse quem governa esse enredo todo aqui, eu ia lá dizer umas boas verdades na cara dele. Centralizador, mandão.
Cala boca já morreu, quem manda na minha boca sou eu.
Então porque eu não posso mandar no meu destino? E porque eu não controlo tudo que me incomoda tipo coco entalado no intestino delgado? Se eu não mando nem no meu intestino como é que eu quero mandar na minha vida? Mandar existe? E amor sem mágoa existe? Mágoa sem amor não, né?

Buscar explicação me dá azia. Mas eu não importo, eu prefiro a azia do que o tédio de não questionar e virar uma imbecil por honoris causa. Talvez isso seja o motivo da minha angústia infinita, dessa busca que beira o monótono apesar da intensidade, dessa minha chatice peculiar que faz o mundo cinza só porque eu detesto cor de rosa.
Eu sempre me sinto sozinha nas questões que não merecem ser perguntadas por que a gente sabe da falta de resposta. E eu só sei lidar com a minha falta, com a minha ausência, e essa semana, quando ele me chamou de egoísta pela terceira vez, eu decidi que não queria ser mais nada além de egoísta. Eu e as questões para serem vividas, para tentar entender, não conseguir nunca e seguir vivendo mesmo assim. É isso e pronto. O tal do livre arbítrio vale até a página da dedicatória só. Pelo menos nos livros que eu leio.

Minha pergunta de cabeceira martela. Eu tento enfrentar as noites de insônia com alguma quietude. Mas a tarefa é árdua. Eu sou leonina, eu sou mandona, eu sou centralizadora, eu não sei não controlar.
Só que a consciência sempre toca a campainha e me lembra que algumas coisas simplesmente são da maneira como são e ninguém perguntou se a gente quer que seja assim.
É tudo culpa do destino. Ou do cara que manda nele.
E a gente tem que se conformar com nossa secundária participação: dar um pouco de movimento para essa coisa incrível que é viver e ser vivido sem mandar em porra nenhuma.


* Tatiana Cavalcanti é autora da Novitas e vai publicar o livro: Caóticos de uma mulher crônica.
Escreve regularmente no site www.taticavalcanti.com.br


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