A ESPERA
Espera-o ao lado da porta,
Enquanto não vem.
Espera-o com o fogo aceso
Do fogão à lenha,
Do seio em brasa.
Cheiros se confundem,
Enquanto não vem.
Os odores
Do sabão de coco,
Da colônia da venda,
Do frango caipira ao molho pardo,
Daquilo guardado.
Deseja-o ousado!
Gritam acolá
E a face rubra cora
Antes do beijo,Estupora!
Veio,
Foi!
Espera-o com panelas sujas,
Pratos engordurados,
Lençóis manchados,
E o filho no ventre.
Grávida,Enquanto não vem.
MARIA NINGUÉM
Tua alegria mudou Maria Ninguém
Por trás da membrana cinzenta de teus olhos,
Dos lábios de cor violácea, disformes,
E corpo emagrecido, com as salientes costelas.
A vida não te sorriu, Maria...
A sociedade te pariu e te desajuntou
Tua realidade é outra, das muitas fomes
A tua é sórdida com suave brilho de estrelas.
Para onde ir, não é Maria?
Aos braços de teu Zé Ninguém?
Para ele espancar tua alma com fórceps?
Enfiar pela tua goela a fumaça maldita?
Onde está o céu, deve ser uma questão,
Quase nunca ou sempre indagada em teu travesseiro.
Não é Maria? Mas mesmo a fome de teus filhos,
Não te aguçam a responder tais perguntas.
Está enferma Maria, muito doente!
E esta doença, é contagiosa e fatal.
Os ricos que te temem só sustentam teus males
E te deixam confusa com sorrisos de predador.
Shangrilá, Céu, Nirvana, Passárgada...
Paraísos fora de tua realidade, ó Maria,
Quais teus sonhos, tuas motivações?
Teu filho quer carinho, mas dá o pouco que tem
Ao Zé que te acorrenta e que devolve na mesma medida
As surras mútuas em teu mundo, Ninguém.
Tenho compaixão de ti e dos teus semelhantes,
Mesmo que tenha me sequestrado, furtado e espancado
Na minha alma maculado um furo.
Queria abraçá-la Maria, em meus braços te contar
Da vida que poderia ser diferente,
Dos sonhos que poderiam existir aos teus filhos.
Mas teu vício jocoso consome voraz
E só tem ouvidos aos Zes e Marias,
Nem a mim nem aos teus pequenos filhos,
Consegue te ater em qualquer atenção.
Talvez por saber de teu destino:
Mais uma cova rasa!
Jazigo das Marias Ninguéns.
* Nascido em Fortaleza-CE, em 31 de Março de 1973, onde fez faculdade de Odontologia na Universidade Federal do Ceará (UFC).
Reside em Brasília desde 1998, onde cursou especialização em Saúde Coletiva na Universidade de Brasília (UNB), e atualmente mestrado em Ciência da Informação na UNB. Possui interesses variados e entre eles a escrita, onde possui mais de duzentos poemas e prosas publicados em formato eletrônico em sites e blogs.
Escreve artigos científicos na área de educação, comunicação, informação e saúde, bem como capítulo de livros técnicos sobre a área de comunicação e informação em saúde.
Colaborador como revisor e editor da série Tempus da Editora do Departamento de Ciência da Informação e Documentação da UNB.
Mantém o blog Braços Abertos.
Reside em Brasília desde 1998, onde cursou especialização em Saúde Coletiva na Universidade de Brasília (UNB), e atualmente mestrado em Ciência da Informação na UNB. Possui interesses variados e entre eles a escrita, onde possui mais de duzentos poemas e prosas publicados em formato eletrônico em sites e blogs.
Escreve artigos científicos na área de educação, comunicação, informação e saúde, bem como capítulo de livros técnicos sobre a área de comunicação e informação em saúde.
Colaborador como revisor e editor da série Tempus da Editora do Departamento de Ciência da Informação e Documentação da UNB.
Mantém o blog Braços Abertos.
* Cristiano Melo é um dos autores da II Coletânea Scriptus - A Livre Escrita
3 comentários:
Que coisa mais boa de se ler! Adorei. A ´poesia da ESPERA, parecia estar lá. Lindo! abraços,chica
Muito bom Cristiano!
Poemas cadenciados de ótima construção, permeados por conotações cotidianas e regionais.
Cristiano, venha para o Empório do Café Literário.
http://emporiodocafe.blogspot.com
Abraços
Lu C.
Obrigado Chica,
Alegra-me seu comentário e apreço.
abraços
Lu, obrigado pelo convite,
passarei lá sim,
seu comentário me alegra, normalmente não sou de temas regionais, mas gosto de misturar.
abraços
Cristiano
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